Posted by : RodrigoPatoDonald terça-feira, novembro 03, 2015

"Lá... bem na multidão... tem um coração olhando pra mim, bem pra mim....."



O ano era 1954. O mês? Novembro! Exatamente no terceiro dia de Novembro de 1954, as multidões japonesas se aglomeravam nos cinemas para ver um filme diferente e MUITO inovador para a época. Ele tinha efeitos diferentes dos tipos de filmes que a nação japonesa estava acostumada. Todos os corações dos japoneses estavam focados no monstro que destruía cidades e as devastava com seu "hálito refrescante". O resultado foi que MUITOS se conscientizaram dos perigos das armas atômicas e se encantaram pelo lagarto Godzilla. Os japoneses se encantaram pela nova forma de entretenimento e pela nova forma de se fazer filmes. Eles estavam encantados pelos efeitos especiais presentes em Godzilla. De lá para cá, foram feitos mais e mais filmes com efeitos especiais mirabolantes (para a época) e conquistando mais público. Os filmes de efeitos visuais japoneses ganharam o mundo. Estadunidenses, Franceses, Mexicanos, Filipinos, Brasileiros.... sim... todos eles se renderam aos filmes de monstros japoneses com efeitos especiais. Daí, se nasceu a expressão "tokushu satsuei", que significa nada mais e nada menos que "filmes que possuem efeitos especiais". 

Só que os japoneses perceberam que podiam fazer MUITO mais com efeitos especiais em suas produções. Com seus efeitos especiais, podiam fazer homens voarem pelo espaço, podiam fazer samurais cortando outros samurais ao meio, podiam criar insetos gigantes, podiam criar heróis que tinha armas lasers. Aproveitando a nova onda de super-heróis estadunidenses que estavam invadindo o mundo, os japoneses resolveram usar os efeitos especiais dos filmes de monstros e samurais em séries de televisão de super-heróis. No início, os efeitos especiais eram precários, mas o suficiente para deixarem os telespectadores impressionados. Fizeram séries de super heróis japoneses para TODAS as idades e gêneros (crianças, jovens, adultos, idosos, homens, mulheres, meninos, meninas, ricos e pobres). 



Os seriados de super-heróis japoneses ganharam fôlego mesmo quando Eiji Tsurubaya criou a franquia Ultraman. Seu primeiro Ultraman foi um estouro e se tornou ícone pop da cultura japonesa. De lá, cada produtora resolveu fazer seus super-heróis com efeitos especiais mirabolantes para cativar as gerações. Por isso, cada geração possui seu herói, seu seriado e seu estilo. A cada geração, os "tokushu satsuei" mostravam evolução nos efeitos visuais. E tudo ganhou novo impulso quando um certo japonesinho, baixinho, de cabelo pixaim chamado Shotaro Ishinomori criou dois tipos de seriados que viriam fazer toda uma tradição no universo japonês: o Kamen Rider (Cavaleiros Mascarado) e Sentai (Esquadrão). Os anos 70 no Japão foram com seriados que flertavam, em muitos casos, pela violência. Mas, a medida que os anos foram passando, a mesma foi suavizada. Os sentais ganharam inovações em 1979, quando a série Battle Fever J ganhou o primeiro robô gigante da franquia e o nome da franquia ganhou a alcunha Super, sendo assim, se tornando os Super Sentais. 

Nos anos 80, a dona Toei presenteia o público com uma nova franquia. No caso os Metal Heroes. A franquia inovou o gênero tokusatsu por causa dos efeitos pirotécnico e o uso de explosões, o que encantava e MUITO os japoneses. Nos anos 90, os tokusatsus de heróis ganharam forças, além dos reforços de filmes de monstros e de Japão Feudal que usavam efeitos especiais. A franquia Kamen Rider entra em hiato e quase que o Super Sentai é extinto. Mas os Metal Heroes não tiveram essa sorte. Na segunda metade dos anos 90, eles são extintos de vez. A família Ultra continuava na ativa. Os kaiju eiga estava oscilante, no aguardo do lançamento do Godzilla americano. E entre os anos 80 e 90, diversos sub-gêneros, como Henshin Heroines e Heroes e alguns Kyodais Heros. Os filmes e séries tokusatsus que retratam o Japão Feudal são bastante valorizados por lá entre o público idoso. 



Já nos anos 2000, já começa uma nova forma de se fazer filmes e séries de Tokusatsus. Efeitos especiais mais elaborados e mágicos. Um dos destaques dos anos 2000 está no filme do gênero Nippo Hero (Heróis de Japão Feudal) Azumi, que visava atrair a atenção dos mais jovens para esse gênero, visto que ele é bastante consumido por idosos japoneses e desconhecido por toda uma geração. A franquia Kamen Rider volta com tudo. Começa-se com Kamen Rider Kuuga, que traz toda uma nova opção e evolução para a franquia. Sai aqueles roteiros de "salvar meninos com micro-shorts do monstro do dia" para um história com teor mais investigativo, onde cada episódios se intercalam. Os Super Sentais estavam focalizando mais em histórias mais amenas, mais leves, tentando atrair mais o público infantil. Por causa disso, usasse um forte apelo comercial nos Super Sentais, sempre trazendo novos apetrechos para atiçar o consumismo mirim. Os Ultras continuam com histórias mais sérias, não tão sérias como eram nos anos 70, mas mais sérias do que das outras franquias. Os Kaijuu Eiga continuam em grandes produções, mas, sem grande apelo comercial para o resto do mundo como das outras franquias. 

Na década atual, houve uma tentativa de trazer os Metal Heroes em filmes especiais. O herói Jiraya aparece num episódio do sentai de 2015, Ninninger. Os tokusatsus de super heróis ganham um apelo mais comercial. O consumismo impera em praticamente todos os tokusatsus das principais franquias. Kamen Rider Gaim é consagrado como um dos melhores da franquia pelo público japonês pela forma de como o roteiro foi conduzido e continua rendendo para a Toei até o presente ano. Mas a maior comoção da década foi o lançamento do novo filme Godzilla por estúdios estadunidenses, em comemoração aos 60 anos do lagartão e dos "tokushu satsuei" japonês.


E no Brasil? Bem.... tivemos o nosso primeiro contato com tokusatsu japonês no ano de 1965, quando a Globo de São Paulo exibiu o programa Clube do Capitão Furacão e, dentro dele, o seriado National Kid. O sucesso foi imediato. Conquistou toda uma geração. Usando a sua influência, o empresário Silvio Santos consegue trazer mais seriados japoneses de efeitos especiais. Para o final dos anos 60 para início dos anos 70, as crianças japonesas descobriram seriados como Agentes Fantasmas, Ésper, Príncipe Dinossauro, Ultraman, Ultra Q, Magma Taishi, Robô Gigante, Ultraman e Spectromen, além de outros. Ainda conseguiram trazer alguns filmes de monstros para toda uma geração. O resultado? Nasceu o primeiro boom dos tokusatsus japoneses no Brasil. Muitos heróis japoneses invadiram o mercado e a imaginação das crianças brasileiras. Mas nenhuma série conseguiu desbancar o reinado de National Kid, o primeiro de todos. Ele reinou sozinho. Vale salientar que National Kid não fez sucesso em NENHUM lugar do mundo a não ser no Brasil. NEM mesmo no Japão a série é tão popular. E uma curiosidade adicional: National Kid chegou até mesmo a ser quase censurado pelo governo militar da época, que achava inadequado mostrar para as crianças, pessoas voando sem equipamentos. National Kid foi reprisado, anos mais tarde, pela extinta TV Manchete, mas não repetiu o êxito que foi nos anos 70.

O segundo boom dos tokusatsus na TV Brasileira começou no ano de 1987, no último sábado de Novembro daquele ano , o dia 28. Estreava na TV Manchete um seriado onde cinco militares lutavam contra criaturas espaciais. Foram cinco sábados exibidos apenas os dois primeiros episódios, numa espécie de teste da emissora. Janeiro de 1988 entrou sem esse seriado. Mas em 22 de Fevereiro de 1988 estreava um programa chamado Clube da Criança com a apresentadora Angélica, com 14 anos na época. Dentro desse programa, a mesma série que estreou em 1987 re-estreava com louvor, junto com outra série. Os nomes dessas séries? Changeman é o esquadrão. E a sua parceira foi Jaspion. O que ajudou toda uma geração a se deixar impulsionar pelo sucesso da dobradinha Changeman-Jaspion? Bem.... analisando todo o conceito histórico e cultural da época, a estréia veio em ótima hora. Os anos 80 é conhecido como o ano das revoluções. No Brasil, é declarado o fim da Ditadura Militar. As mulheres ganham mais liberdade e disputam de igual para igual com os homens no mercado de trabalho. A TV colorida ganha mais destaque. As emissoras investem pesado na programação infantil. Como as mulheres saíam para trabalhar junto com os maridos, coube as TVs bancarem as "babás eletrônicas" das crianças. 



Aproveitando a onda, as crianças daquela época ficaram impressionadas com a nova forma de se fazerem heróis. Coreografias mirabolantes, efeitos pirotécnicos, explosões coloridas, uniformes coloridos, armaduras reluzentes, robôs gigantes, monstros maus e heróis fortes. Sim! Changeman e Jaspion fizeram um frisson para toda uma geração e trouxeram mais e mais heróis japoneses para a TV brasileira. Muitas emissoras apostaram em novas produções. Algumas trouxeram até mesmo seriados que foram exibidos nos anos 70. Mas nenhuma conseguia repetir o êxito que foi Jaspion-Changeman. Os anos 90 foram recheados de aventuras mirabolantes. Cada série conseguiu atingir vários tipos de público. Ou seja, foram séries para TODOS os gostos. Mas, um provérbio argentino diz que, "a mesma mão que dá carinho é a mesma mão que fere". E o mesmo sucesso que levou os heróis japoneses ao estrelato foi o responsável pela sua queda. A saturação e as reprises exageradas causaram um desgaste no gênero. 

Os anos 2000 entraram somente com Ultraman Tiga no programa da Eliana na Record, Mas, por exigência da apresentadora, que o "achou violento demais", foi retirado do ar de imediato em 2001. Ficamos sem Tokus na TV aberta, contando com algumas reprises de Kaiji Eigas no SBT. Mas a história mudou em 2009, quando a Rede TV anuncia a estreia do seriado Ryukendo. Começou todo um novo frisson. Ryukendo conseguia em média de 6 para 8 pontos de ibope para a Rede TV, o que é, para os padrões da emissora, MUITA coisa. Ryukendo batia o seriado mexicano Chaves facilmente. A Rede TV tinha a faca e o queijo na mão, mas entregou para os ratos. Má divulgação, má distribuição, descaso de empresários com o seriado e o pior de tudo, pessoas que se diziam toku-fãs num frenesi desenfreado querendo boicotar a série, mandando intimações para a Rede TV tirar Ryukendo para colocar Changeman e Cia no lugar, fez com que Ryukendo fosse jogado de escanteio. 



Hoje em dia, os toku-fãs usam diversos meios para assistirem tokus. Temos DVDs, Internet e o sistema Streamming para assistirmos tokus. Nos últimos 5 anos, tivemos os lançamentos de tokus no mercado de DVD, como alguns filmes da família Ultra, Azumi, alguns Kaiju Eiga e alguns seriados da Manchete. Alguns canais de streamming estão liberando tokus para o povo latino. Os Tokus que não tiveram licença são legendados de forma harmoniosa por muitos fansubs, inclusive o nosso.

Nesse dia dos Tokusatsus, esperamos que todos não deixem a chama dessas produções que nos encantaram apagar. Vamos esquecer as desavenças e vamos nos unir por um único ideal. Re-acender toda a chama do tokusatsu para uma nova geração. Não fiquemos presos SÓ ao que assistimos no passado. Os tokusatsus japoneses possuem mais de 60 anos de história. Temos MUITAS coisas para vermos. Para conhecermos. Para explorarmos. Para opinarmos. Hoje em dia, os japoneses fazem uma homenagem solene para o Godzilla todos os anos, em honra a 60 anos de história de produções como um todo. E nós podemos fazer a mesma coisa por nossas amadas séries. Por isso, feliz dia do Tokusatsu para TODOS nós! :D

SOLDIERS! CHEER UP! :D






{ 3 comentários... leia abaixo, ou comente }

  1. Excelente matéria, concordo com o que foi dito e que possamos celebrar essa data por muito tempo...^^

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  2. e lembrem-se crianças: tokusatsu não é só "jaspioum" ein kkkkkk

    otima matéria, parabens!

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    1. Eu sei.

      Sou só eu ou prevejo um certo "revival " de tokusatsu (mais prá Super Sentai que outra coisa) rolando subjetivamente? Já tem até bilheteria de cinema distribuindo copo de Tokusatsu (do Jaspion) por aí... E o lanceda Shout! Factory e seus DVDs de Zyuranger, Dairanger e Kakuranger (me pergunto se lançarão o material que abrange entre Goranger e Jetman...) fala por si só.

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